Tensão, Intensidade e Corpo no Teatro Pós-dramático

Oficina teórico-prática
com Hans Thies Lehmann, Maura Baiocchi e Wolfgang Pannek
6 a 8 de agosto de 2010 – das 10 às 12h30 e das 13h30 às 15h
Local: O LUGAR  - Rua Augusta, 325 – São Paulo – SP

Público alvo: atores, diretores, dançarinos, performers e pesquisadores 

Investimento: R$ 500,00 à vista / R$ 600,00 parcelado
Informações & inscrições mediante envio de CV: contato@taanteatro.com 

Sinopse:
Oficina em dois segmentos interligados. No primeiro segmento serão realizados processos de treinamento e criação do Taanteatro (Teatro Coreográfico de Tensões). No segundo segmento Hans Thies Lehmann comentará as experiências práticas realizadas, além de discursar sobre o papel do corpo e a função de conceitos como tensão e intensidade no teatro pós-dramático (ver texto abaixo).
A oficina integra o Hans Thies Lehmann Brasil Tour 2010 organizado por Wolfgang Pannek junto à UDESC, UFRGS, UFG, UNB, UFBA e UFRN.
HANS THIES LEHMANN
O alemão Hans-Thies Lehmann é reconhecido como um dos mais importantes teóricos do teatro contemporâneo e da estética teatral. É professor de Estudos Teatrais da Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt am Main. Membro da Academia Alemã de Artes Cênicas, trabalhou como dramaturgo com diretores de destaque na Europa, como o alemão Christof Nel e o grego Theodoros Terzopoulos. Entres seus livros destacam-se Teatro Pós-DramáticoEscritura Política no Texto Teatral.
TENSÃO E TEATRO PÓS-DRAMÁTICO
Trecho extraído do capítulo Tensão e Artes Cênicas do livro Taanteatro – teatro coreográfico de tensões
O teórico teatral Hans-Thies Lehmann lançou, com seu livro O teatro pós-dramático, uma tentativa de descrever e conceituar o desenvolvimento do teatro a partir de 1970. No lugar de pós-moderno, termo que procura abarcar a complexidade das manifestações culturais de cerca de três décadas (1970 a 1990), Lehmann propõe o conceito pós-dramático, de abrangência mais restrita, voltada exclusivamente para as artes cênicas. O autor admite a proximidade do teatro pós-dramático com o teatro energético, esboçado pelo filósofo francês Jean-François Lyotard que, por sua vez, situa-se nos arredores do teatro da crueldade de Artaud. O teatro energético é concebido como teatro de “forças, intensidades, afetos, presenças”. Teatro além do drama, do significado e da representação – o que, de acordo com Lehmann, não impede a presença da representação, mas do domínio de sua lógica. O teatro pós-dramático é caracterizado pelo “desaparecimento do princípio de narração, de figuração e de ordem da fábula” e pela “impossibilidade de fornecer sentido e síntese”, apontando apenas para perspectivas parciais. Seus elementos formais recorrentes são: fragmentação, deformação, subversão, transgressão, descontinuidade, não-textualidade, plurimedialidade e a anulação de fronteiras entre linguagens. O texto teatral não é mais a referência central e determinante da encenação, no lugar do discurso aparecem a meditação, o ritmo, as sonoridades, o espaço. É um teatro do gesto e do movimento. Lehmann resume essas tendências como a despedida das tradições da forma dramática, despedida que, no entanto, não exclui as estéticas mais antigas: “o teatro pós-dramático é essencialmente, mas não exclusivamente, ligado ao teatro experimental, disposto ao risco artístico”. É work in progress, adepto da desconstrução ou dissolução de narrativas, da mistura e simbiose de linguagens ou códigos de encenação. No teatro pós-dramático o absolutismo do corpo, que burla o sentido através da sensualidade, vive um “deslocamento da semântica para a sintaxe”. A realidade dessemantizada do corpo, isto é, o corpo auto-referencial e sua observação se tornam objeto estético-teatral. Apesar de todos os esforços para domesticar o potencial expressivo do corpo numa lógica, gramática, retórica, diz Lehmann, o corpo se tornou o centro do teatro, o signo central que “nega o serviço do significado” e o ponto irredutível da cena onde se realiza o fading de qualquer significar em favor da presença, da fascinação e da irradiação de “uma corporalidade auto-suficiente exposta em suas intensidades e potenciais gestuais – em sua presença aurática e em suas tensões internas e externamente transmitidas”. Some, junto com a representação, a projeção do corpo ideal; surge, com absoluto poder de incorporação de todos os outros discursos, o corpo intenso. O corpo, ao mostrar nada além de si mesmo, ao abandonar a sua significação voltando-se para o gesto livre de sentido, [...] torna-se tema único, [...] com uma significação que se refere à existência social inteira. Teatro pós-dramático é um teatro de potencialidades do corpo, não através de sua capacidade de significar, mas através de sua presença, da autodramatização da físis e do processo corporal que acontece entre corpos. Quando textos e ações cênicas são percebidos de acordo com o modelo da ação tensiva do drama clássico, as condições próprias da percepção teatral recuam: a presença do acontecimento, a semioticidade própria do corpo, os gestos e movimentos dos performers, as estruturas de composição formais da língua enquanto paisagem sonora, as qualidades inesgotáveis do visual além da representação, o desenrolar musical-rítmico com seu tempo próprio etc. – justamente os momentos que constituem a forma do teatro contemporâneo. No teatro pós-dramático, a tensão dramática clássica é substituída pela realidade da tensão corporal.