50 DESENHOS PARA ASSASSINAR A MAGIA

2014

50 DESENHOS PARA ASSASSINAR A MAGIA
Encenação coreográfico inspirada na obra honônima de Antonin Artaud.

Fotos

Vídeo

Criação do Núcleo Taanteatro – Formação, Pesquisa, Criação 2014.
Programa Municipal de Fomento À Dança para São Paulo – 16 edição.

Concepção e direção: Wolfgang Pannek
Co-direção: Alda Maria Abreu
Supervisão coreográfica: Maura Baiocchi
Roteiro: Wolfgang Pannek, Alda Maria Abreu, Ana Beatriz Almeida
Música: Gustavo Lemos
Cenografia: Henrique Lukas, Wolfgang Pannek
Figurino: Ana Beatriz Almeida
Vaga especial: Isa Gouvea .
Projeto gráfico: Hiro Okita

Elenco: Ana Beatriz Almeida ; Camila Duarte ; Dora Smék , Elisa Canola , Fabio Pimenta , Henrique Lukas, Janaina Carrer , Juliana Morimoto , Kalassa Lemos Guarani Kaiowá , Lika Rosa , Marcelino Bessa , Marcelo D’Avilla , Michele Carolina, Mônica Cristina , Patrícia Pina Cruz , Paula Alves , Samanta Lwn .

Apresentações:
17, 18, 26 e 27/09 – Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo
28/09 – 20h – Centro Cultural São Paulo – Mostra do Fomento à Dança

50 desenhos para assassinar a magia é uma criação coreográfica livremente inspirada na obra homônima e póstuma do poeta, autor e ator francês Antonin Artaud (1896 a 1948). Composta por solos, danças coletivas, coro de glossolalias e textos artaudianos, o espetáculo toma como ponto de partida os totens ou gris-gris caraterísticos dos últimos dez anos de sua vida. Esses desenhos-escrituras febris, feitos a lápis, intencionalmente perfurados e queimados engendraram um Teatro da Crueldade “sobre pequenas folhas quadriculadas de papel escolar”.
Registros de gestos mágicos, danças e vocalizações imersos “no surreal, extra-real, sobrenatural, supra-sensível” para combater as tentativas incessantes de invasão, ocupação e dominação de seu corpo por meio de códigos culturais, morais, estéticos e econômicos, considerados por Artaud como a verdadeira “magia negra”. “Intencionalmente malsucedidos” esses desenhos-escrituras, avessos à representação, às linguagens formalizadas e ao bom gosto são vestígios de uma contra-magia e de um combate poético-alquímico contra a institucionalização do corpo humano.
A magia das instituições e da guerra, testemunhadas por Artaud enquanto soldado na Primeira Guerra Mundial e “deportado” para o manicômio durante a Segunda Guerra Mundial, foram experiências decisivas para sua vida e arte. Contribuíram para sua escrita visceral, seu tom bélico, seus desenhos de corpos estilhaçados, sua visão de um mundo em erosão, sua guerra poética de um homem só contra o mundo inteiro.
50 desenhos para assassinar a magia elege como alvo principal a magia nefasta das guerras. Conflitos territoriais e ideológicos entram em fusão mortal nas guerras de outrora e nas atuais: Afeganistão, Ucrânia, Faixa de Gaza, Iraque, Líbia, Síria, África Central, Sudão, México etc.
Inédita, a encenação explora a vontade artaudiana de “explodir” o corpo organizado e de criar uma anatomia nova capaz de “curar e governar a vida”. Adota como dinâmica dramatúrgica o rito da Grande Obra que simboliza a transformação espiritual por meio da transmutação do chumbo em ouro. Aproxima-se assim da concepção de um teatro alquímico esboçada pelo poeta.
Resulta do processo de formação artística do NUTAAN 2014 e dá inicio à cARTAUDgrafia, projeto de criação da Taanteatro Companhia para 2015.

Video

Crítica
Artaud para expulsar os demônios da cultura, espetáculo do TaanTeatro

Expressivo, espasmódico, opiáceo, louco. Palavras que passaram pela minha cabeça enquanto assistia ontem a “50 desenhos para assassinar a magia”, espetáculo que é resultado do processo de formação artística do NUTAAN, núcleo ligado à companhia TanTeatro.
Inspirada na obra póstuma de Antonin Artaud, a montagem corresponde ao sentido de transgressão que o dramaturgo, poeta e ator francês imprimiu à sua vida e sua arte. Dezessete atores em cena, num espetáculo de dança-teatro, sustentam a ideia de criar novos códigos estéticos, políticos, filosóficos, poéticos no lugar daquilo que o sistema propõe como uma espécie de “magia negra”, determinando atitudes a serem combatidas de forma artística.
Muito impressionantes as expressões e desenhos de corpo do elenco, uma atriz chega a fazer uma espécie de decalque da obra “O Grito” de Edvard Munch. Foi a primeira vez que vi “O Grito” em carne e osso. Apenas um dos muitos exemplos de” máscaras”, posturas e angústias que marcam tão bem a obra de Artaud, incursionando pelo seu trauma enquanto soldado da Primeira Grande Guerra e sua internação compulsória em hospício durante a Segunda Guerra.
O ambiente manicomial está muito presente em gritos, contrações, espasmos, pulsações, revoltas que chegam ao ápice no apelo do “corpo sem órgãos”, tema de um dos textos de Artaud. Delírios, glossolalias e fala desarticulada são bem aproveitados neste “combate poético”. Trata-se de uma amostra do Teatro da Crueldade, com os atores se misturando ao público como queria Artaud ao propor a ultrapassagem dessas fronteiras.
O espaço da Oficina Cultural Oswald de Andrade, com as colunas embrulhadas em papéis com desenhos e escritos de Artaud funcionou bem como cenário. Sonoplastia dramática corresponde à tensão exigida para a encenação.
Lembrei-me da passagem de Artaud, apresentando visceralmente os conceitos do Teatro da Crueldade na Sorbone, nos anos 30, quando a escritora Anais Nin foi a única a permanecer na plateia até o fim. O resto do público se levantou sem compreender aquele artista que urrava e babava em cena.
Mais de 50 anos depois, sua proposta continua viva, implodindo os limites da linguagem artística através do corpo-palavra, corpo-poético, corpo-insano, corpo-delírio, corpo-anticonvencional que abriga e expulsa os demônios da cultura.
(Célia Musilli/CARTA CAMPINAS)

Aplauso do público no CCSP