DA VIOLÊNCIA: FANON


2025

Projeto inédito da Taanteatro Companhia, fundada em 1991 em São Paulo, que aborda formas de violência contemporânea e histórica na perspectiva de uma dança decolonial, antirracista e inclusiva, impulsionada pela crítica político-filosófica e revolucionária de FRANTZ FANON, médico, escritor e militante-ícone do movimento africano e afrodiaspórico da descolonização.

EQUIPE
Direção artística geral: Maura Baiocchi
Dramaturgia e direção: Wolfgang Pannek
Coreografia: Mabalane Jorge Ndlozy
Curadoria visual: Thiago Consp
Música, DJ & VJ: Anderson Kaltner
Percussão: Otis Selimane Remane
Iluminação: Gabriele Souza
Elenco: Mabalane Jorge Ndlozy, Black Escobar, Mônica Cristina Bernardes & participantes dos NUTAAN 2025.
Coordenação NUTAAN 2025: Mabalane Jorge Ndlozy e Janina Arnaud
Palestrante convidado: Deivison Faustino
Consultoria Cultural: Médrick Varieux
Assessoria de imprensa: Maria Fernanda Teixeira
Design Gráfico: Hiro Okita
Diretora de produção: Mônica Cristina Bernardes
Produtora associada: Renata Campos / Com Arte Produções
Produtora: Transcultura
Projeto: Taanteatro Companhia

Segundo a filósofa e feminista afro-americana Angela Davis, Fanon é “o mais poderoso teórico do racismo e do colonialismo do século XX.”

FANON Militância & Atualidade
Nascido na Martinica, em 1925, e falecido, prematuramente, em 1961, nos Estados Unidos, Fa-non desenvolveu sua obra ativista entre 1951 e 1961, na esteira da agenda política articulada pelo 5º Congresso Pan-Africano (Manchester, Inglaterra, 1945): condenação do imperialismo, da discriminação racial e do capitalismo & defesa da descolonização da África e do Caribe.
Veterano da Segunda Guerra Mundial, Fanon propõe uma guerra de libertação (nacionalista, mas em cooperação internacional) em busca da criação de uma nova realidade, de um novo homem¹. A realidade dessa África que está por vir, dotada de soberania absoluta, seria alcan-çada através da luta política ou da luta armada, isto é, por meio da violência organizada – exer-cida pelo povo colonizado, visando a explosão da violenta realidade colonial burguesa e capita-lista, mas também por meio da superação do feudalismo e da religiosidade africanos tradicio-nais.
Em concordância com Angela Davis, Cornel West, autor de Questão de Raça, considera Frantz Fanon não somente o maior intelectual revolucionário da metade do século XX, mas também o mais atual para o século XXI.

Corpo & Dança em FANON
Além de sua comprovada atualidade política para os debates sobre colonialismo, racismo e a autonomia dos povos, a obra de Fanon favorece e desafia sua abordagem coreográfica por, ao mesmo tempo, ressaltar o papel chave do corpo para o complexo colonial e criticar a dança co-mo prática antirrevolucionária.
Em Os Condenados da Terra, seu último livro, Fanon descreve o corpo negro como campo de combate entre as forças antagônicas da colonização e da descolonização. Diagnostica nos cor-pos dos colonizados um estado de tensão permanente imposto por valores e políticas de colo-nização ocidentais; uma hipertensão incessante frequentemente liberada em atos de autodes-truição coletiva e individual.
Respiração, tônus muscular, fluxo sanguíneo, batida cardíaca, funcionamento cerebral, a veemência analítico-poética de Fanon esboça, junto à anamnese dos distúrbios psicossomáticos dos corpos colonizados, uma coreografia do poder manifesta tanto nos protocolos disciplinares da dominação colonial quanto nas suspensões e imobilizações dos dominados em seus sonhos musculares.

O ceticismo de Fanon com relação ao círculo da dança sugeria que o estudo do mundo colonial deve forçosamente buscar compreender o fenômeno da dança e do transe. Não para consagrar o catarse dançante, mas em sentido crítico e em função do potencial con-trarrevolucionário da dança que, segundo Fanon, canaliza a agressividade mais aguda e a vio-lência mais imediata do colonizado para um permissivo plano libidinoso e extático asseguran-do, ultimamente, a estabilidade do mundo colonial. Fanon se opunha à orgia muscular da dan-ça e ao relaxamento do colonizado por motivos de luta anticolonial.

Corpo hipertenso & TAANTEATRO
O diagnóstico do corpo como lugar de tensão permanente, constitui o lugar de entrada privilegi-ado para a investigação coreográfica da Taanteatro Companhia, notabilizada por sua metodo-logia taanteatro (ou teatro coreográfico de tensões). Uma tensão incessante, ao mesmo tempo carnal, cinética, conceitual e civilizatória, experienciada por um corpo transformado em território de polarizações dilacerantes, condenado à reprodução do complexo colonial mas também ca-paz de destruir o mundo colonial e de libertar e recriar o ser humano. Será a partir desse potencial corporal duplo – destruição e criação – que a Taanteatro Companhia também irá questionar o veredito fanoniano negativo acerca das capacidades revolucionárias da dança.

Em Pele Negra, Máscaras Brancas, Fanon observa a existência de “dois campos: o branco e o negro” encerrados no círculo vicioso do colonialismo. Levar seu irmão, seja negro, seja branco, adiante na compreensão do contexto colonial e de sua violência em estado puro para, por fim, destruí-lo, é seu declarado objetivo.
Nesta perspectiva transformativa, Da Violência: Fanon dá continuidade à três linhas de pesqui-sa da Taanteatro Companhia explorados anteriormente em projetos e espetáculos como DAN devir ancestral (2009), Androgyne – sagração do Fogo (2013), cARTAUDgrafia (2015), Mensa-gens de Moçambique (2018), [dez]colonizações (2019) e Chissano – Rito para Mabungulane (2021):

1. pesquisa e aplicação de estudos pós-coloniais ao campo da dança contemporânea
2. investigação de práticas corporais e processos coreográficos colonizantes
3. criação de dinâmicas descolonizantes em dança

A equipe transcultural e multiétnica do novo projeto da Taanteatro Companhia conta com a co-laboração de artistas afro- e euro-descendentes, refugiados e migrantes afrodiaspóricos.

A coreografia de Da Violência: Fanon será assinada por Mabalane Jorge Ndlozy, dançarino pro-fissional moçambicano, radicado no Brasil sob a condição de refugiado. A curadoria visual do projeto será do artista visual e grafiteiro paulistano Thiago Consp. A dramaturgia e a direção do projeto será de Wolfgang Pannek, diretor da Taanteato Companhia. A supervisão artística do projeto estará a cargo da diretora-fundadora da companhia, a coreógrafa Maura Baiocchi. O elenco do espetáculo conta com Mônica Bernardes, integrante da Companhia, Black Escobar, bailarino convidado, e três integrantes selecionados do NUTAAN 2024.