Dinâmica taanteatro

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O termo taanteatro é um neologismo que significa teatro coreográfico de tensões. Além de ser o nome à companhia, designa uma dinâmica teórico-prático-criativa que se desdobra em três campos de investigação:

1. Análise do corpo e do acontecimento cênico.
2. Treinamento e formação de atores e dançarinos.
3. Criação teatro-coreográfica.

Visa o desenvolvimento das capacidades comunicativas do ator através de metodologia específica que possibilita a geração de procedimentos e parâmetros para a criação, encenação e análise do espetáculo. Parte do pressuposto que a qualidade e a eficácia do potencial comunicativo do performer estão ligadas à capacidade de estabelecer e operar tensões intra (paisagem interna do corpo), inter (entre corpos de qualquer natureza) e infra-corporais (campo sócio-político-cultural).

Práticas, processos e conceitos originais do taanteatro:

Práticas corporais: mandala de energia corporal; esforço = capoeira + artes marciais orientais + esporte; esqueleto-massagem com bastão e mantras indígenas; alongamento-shiatsu.

Processos criativos: (des)construção de performance a partir da mitologia (trans)pessoal, incluindo: mandala gráfico, criação de roteiro grade e roteiro de tensões, direção coletiva; caminhadas; rito de passagem.

Conceitos: tensão; ent(r)e; pentamusculatura e ecorporalidade; esquizopresença; metacoreografia.

A pesquisa taanteatro, premiada com a Bolsa Vitae de Arte e Cultura e pelo Programa Municipal de Gomento à Danças para São Paulo , teve reconhecimento acadêmico através do mestrado de Maura Baiocchi: “Corpo e comunicação em processo: o princípio tensão na experiência taanteatro” (2006 – PUC/São Paulo). Sua difusão se concretiza por meio de cursos (Taanteatro Oficina Residência), núcleos de criação (NUTAAN) e publicações de livros.

A companhia realizou cursos de extensão e oficina em universidades e faculdades brasileiras como USP, FAAP, PUC, UFAL,UFG, UFMG, UNB, bem como nas Universidades Nacional de Córdoba e na Universidade de Buenos Aires/Argentina.A dinâmica taanteatro também é empregada fora do contexto da companhia. Por exemplo: na preparação do elenco da Terça Nobre Uma Mulher Vestida de Sol com direção de Luis Fernando Carvalho/TV Globo; em Os Sertões do Teatro Oficina, na Companhia Municipal de Canto e Dança da Matola/Moçambique e na encenação de Matériamuerte com elenco argentino.

 

DANÇA DE CONCEITOS

Tensão
A qualidade e a eficácia da comunicação estão diretamente ligadas à capacidade de operar tensões. Tensão (T) é a entrelinha dinâmica que relaciona e atravessa as singularidades da vida (corpos, objetos, gestos, sons, silêncios, ideias, imagens, palavras, etc.). Surge como diferença de potencial entre corpos, forças e formas e articula processos de interação entre os mesmos. Corpos geram tensões e, ao mesmo tempo, as tensões engendram os estados dos corpos, deslocando-os e reterritorializando-os. No taanteatro, de um modo geral, distinguimos Ts intra, inter e infra. Intratensões ocorrem no nível psicofísico – musculaturas aparente, interna e transparente2 – e se manifestam na qualidade do estado corporal. Intertensões ocorrem entre corpos (ou pentamusculaturas) e mídias de qualquer natureza. Infratensões provêm do campo político-sociocultural em forma de tradições, crenças, valores, ideologias, códigos e acontecimentos históricos. Qualquer ação ou movimento corporal opera intra, inter e infra tensões simultaneamente. Musculaturas e tensões operam em rede. É enriquecedor para o performer-encenador conscientizar-se dessa complexa rede, levando em consideração critérios como tensões corporais sintáticas, semânticas, intermodais e pragmáticas, além de operar estratégias e técnicas tensivas como conflito, indeterminação, retardamento, metáfora, sequência tema-rema, variação, multiplicação e assimetria. Quando despertamos o interesse ou atiçamos a curiosidade do público, significa que – mesmo à nossa revelia – um ou mais desses critérios e/ou estratégias dramatúrgicas se concretizaram.

Ent[r]e
Tensão e acontecimento cênicos emergem de encontros entre forças e formas (corpos) no espaço-tempo e, no instante seguinte, se transformam em polos de novos acontecimentos-tensões. Nessa dinâmica de atravessamentos mútuos, também os corpos não permanecem idênticos, mas se revelam como entidades transitórias, meios permeáveis. O neologismo ent[r]e se refere à seguinte noção: corpos são processos, passagens, aquilo que acontece, são entres e entes ao mesmo tempo. Significa que o entre não se localiza somente no espaço “vazio” entre um corpo e outro, mas também no processo constitutivo de cada corpo. Exploramos essa duplicidade – a processualidade dos entes e a entidade dos processos – que torna a operação das Ts mais fluida.

Pentamusculatura
É um conceito-guia para a construção de uma anatomia afetiva que integra todos os aspectos da cena e da vida ao corpo do performer ajudando-o a perceber-se como um meio ambiente ou uma ecorporalidade. São cinco (penta) musculaturas interconectadas, interativas – aparente, interna, transparente,absoluta e estrangeira –, porosas, agem concomitantemente e estão em constante processo de reconfiguração. A terminologia escolhida não estabelece distinções científicas nem divisões hierárquicas e visa despertar a nossa atenção para uma visão ampliada do corpo. Ao nos referirmos, por exemplo, ao sistema nervoso ou à psique como uma musculatura, alertamos para a possibilidade de tonificação de nossas faculdades mentais e emocionais da mesma maneira que fazemos com as estruturas mais densas do corpo, por meio de alongamentos, flexibilizações, respirações, etc. Ao conceber o corpo do performer como um meio ambiente, incorporam-se a ele outras formas de vida que, por sua vez, o incorporam. das artes performáticas por uma encenação de atmosferas tensivas em que o corpo humano é um elemento importante, ao lado de outros elementos igualmente importantes. Essa descentralização do corpo e a “desumanização” da cena não diminuem de forma alguma a ênfase dada ao trabalho do performer, mas levam à reavaliação de sua função na encenação. À medida que o performer se reconhece como um ambiente pentamuscular, priorizará a interação com as musculaturas que servem ao aprimoramento do tônus cênico geral desejado. O ato de coreografar no taanteatro envolve, principalmente, atenção minuciosa ao jogo de tensões operado pela PEM durante um processo criativo. Essa atenção é mais relevante para nós do que simplesmente organizar movimentos e gestos no espaço-tempo cênico.